SOCIOECONÔMICO OU SÓCIO-ECONÔMICO

--- O Manual de Redação da Folha de S. Paulo recomenda a grafia “socioeconômico” para a palavra composta “sócio-econômico”. Desejo saber qual a grafia correta. Márcio Antonio de Melo, Chapecó/SC

As duas grafias coexistem no Brasil. A forma inovada é sem hífen. A mais antiga é hifenizada, pois foi estabelecida de acordo com a regra de formação dos adjetivos compostos, em que o primeiro adjetivo fica na sua forma neutra (sem flexão de feminino ou plural), às vezes reduzida (infantil – infanto, literário – lítero, maxilar – maxilo, social – sócio), e os dois elementos se unem obrigatoriamente por hífen. é o caso, por exemplo, de político-financeiro, histórico-cultural, infanto-juvenil, técnico-administrativo, entre dezenas de outros.

A questão começa a ser controversa quando se verifica que ‘socio’ – redução tanto de ‘social’ quanto de ‘sociedade’ – também entra na composição de substantivos, como sociolingüística, sociodrama, sociogenética, sociogeografia, socioeconomia. Aqui, então, sócio- é considerado um “elemento de composição”, como registram os dicionários. Desta forma, mais pelo aspecto visual do que lógico, começou-se a escrever igualmente num só bloco o adjetivo: sociogenético, sociolingüístico, socioeconômico, sociogeográfico, sociocultural, socioinstitucional, sociopolítico.

Essa evolução e a hesitação entre uma e outra grafia podem ser constatadas nos dados abaixo:

Dicionário Aurélio 1986: apresenta sócio-econômico, sócio-político, sociocultural e sociolingüístico.

Manual de Redação da Folha de S. Paulo 1987: sócio-econômico e sócio-cultural.

Novo Manual de Redação da Folha de S. Paulo (Anexos) 1992: socioeconômico.

Dicionário Aurélio 1999: sociobiológico, sociocultural, socioeconômico, sociolingüístico, sociopolítico e sociorreligioso.

Dicionário Houaiss 2001: tudo sem hífen, inclusive socialpatriótico e socialdemocracia (!). Ali constam igualmente as variações socieconômico e socieconomia [sem O].

De fato, a grafia sem hífen é mais econômica. E considerar a redução de um adjetivo como elemento de composição não é fato novo nem raro. Veja-se agro, cardio, eletro, gastro e termo, que formam vocábulos como agroindustrial, agrosserviço, cardiorrespiratório, eletrotécnico, eletroeletrônica, termodifusão, termoestável.

De outra parte, o dicionário Houaiss, nos verbetes soci(o), não traz nenhum adjetivo formado por três elementos, como em “atividades sócio-político-culturais, medidas político-econômico-sociais”. Quem prefere a composição sem hífen deveria, nesses casos, escrever: atividades sociopoliticoculturais, medidas politicoeconomicossociais. Só que a coerência aí levaria à grafia de nomes um tanto estranhos e mais difíceis de entender.

No tocante a palavras iniciadas com H, também há duplicidade de grafia, preferindo-se o registro com hífen: ”Enquanto as ideologias seriam puras projeções que não têm efeito transformador no mundo sócio-histórico, as utopias seriam idéias passíveis de concretização, até certo ponto e em seu tempo, neste mundo” (J. R. Thompson).

Por fim, enfatizo que não se pode admitir apenas uma grafia correta. Vamos continuar vendo, nos livros publicados até 1990 (e em alguns até mais recentes), a hifenização nos vocábulos iniciados por sócio-. Não precisamos sair trocando a forma sócio-educativo, por exemplo, só porque a tendência agora é escrever socioeducativo. Aliás, no mesmo livro ou texto, é recomendável manter um padrão gráfico em relação a esse tipo de palavra.


* Maria Tereza de Queiroz Piacentini - Diretora do Instituto Euclides da Cunha e autora dos livros "Só Vírgula", "Só Palavras Compostas" e "Língua Brasil - Crase, pronomes & curiosidades" -

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